quinta-feira, 30 de julho de 2009


Não lembro quando ele nasceu, a imagem mais antiga que guardo na memória, é dele vestido de marinheiro, os cabelos cor de mel, muitos cachinhos dourados, narizinho fino, cheio de sardas. Esperto, quase sempre se safava dos castigos de coisas erradas. Eu costumava abrir meus braços e ele, corria ao meu encontro num passo trôpego para um abraço muito apertado. Nossa diferença de idade não era grande, mesmo assim, brincava com ele como se fosse um bebê. Carinhoso, gentil, generoso e criativo, eu amava nossas brincadeiras.

Certa vez, algum adulto nos deu banho e ele como era o menor, foi colocado ainda sem roupa em cima do soumier da sala. Não sei como foi parar junto a ele um pintinho. Acho eu, que a ave, confundiu parte do seu corpo com alguma minhoca, não que fosse pequeno, mas confundiu-o. O pintinho não largava mais, sacudindo freneticamente a carne inerte, talvez na tentativa de parti-la. O menino aos berros e a babá correndo de um lado para o outro, sem saber o que fazer. “-Mata o pinto!” Alguém gritou. Uns riam e nós assustados com a cena, permanecemos paralisados. Não lembro o que aconteceu com o bichinho, a coitada da criança ficou sem poder mais olhar para nenhum bicho de penas durante muito tempo.

Eu, temporã de uma grande família, cresci com meus sobrinhos fazendo vias de irmãos. Rimos, choramos, estudamos juntos, arrancamos pedaços uns dos outros, nos protegemos, nos apoiamos, sofremos e amamos muito. Nunca, nenhum deles me faltou. Sempre que precisei estavam lá. Eram os meus três mosqueteiros. Nos piores momentos, nos melhores momentos, mesmo rindo ou chorando sobrevivemos! Primeiro, a vida levou o do meio, depois o meu pequeno e hoje só tenho o último dos três mosqueteiros.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Às vezes penso em ir embora

Encontrar alguma coisa perdida

Não é a felicidade, essa eu achei!

Mas lembranças esquecidas

Aonde não sei

Em que lembranças eu estarei?

Como me encontrarei?

Estou tão esquecida, perdida...

Que já não sei

Não quero muita coisa

Um abraço bem apertado

Transplantando o coração

Da mão firme nas minhas derrapadas

Das conversas infinitas sobre qualquer coisa,

Do beijo na testa e de línguas

Do afago nos cabelos

Dos segredos velados

De arrepiar os pelos

Do pedacinho do doce na boca

Do cheiro da chuva na terra seca

Da cabeça oca

Do eu te amo sussurrado

Fui eu quem fez

Coloquei uma aqui

experimentei outra ali

Tentei rimar sem conseguir

Puxei outra vez

Sem êxito, fali...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

o chato não dorme!!


Dizem que o chato não dorme. Talvez ele fique muitas noites acordado, maquinando em como aborrecer alguém, até mesmo prejudicar outra pessoa por pura maldade. Esse indivíduo, de comportamento peculiar, não tem desconfiômetro. Ele pratica a chatice com qualquer pessoa, a qualquer hora, em qualquer lugar, mas prefere o ambiente de trabalho, talvez por passar a maior parte do tempo ali, onde as presas são mais fáceis.

Deve existir no mundo, inúmeros tipos. Conheço um muito singular, o que quer ser admirado e idolatrado, e quando não o são, mostram-se vingativos, perseguindo suas vítimas a exaustão.

No afã de ser endeusado e paparicado, se excedem, extenuando quem convive com o tipo. Orgulhosos e perseverantes, vão até as últimas conseqüências para que suas vontades sejam executadas. Mesmo que a vítima não dê a mínima para o coitado, ele continua na sua empreitada, bolando qualquer coisa que a faça sofrer. O sofrimento alheio lhe dá prazer. Sade poderia muito bem ter feito estágio com este tipo, tamanha perversidade.

Geralmente, são bem relacionados e costumam manter estreitas relações com os altos escalões. Não é por merecimento nem competência que chegam a postos de comando. É comum terem a ajuda, ou a “mãozinha” de alguém, num pequeno empurrão em suas carreiras. Enquanto essas influências durarem, esse chato vai conseguir se manter ali, na sacada do poder. É sabido que tudo despenca, que nada é para sempre...

domingo, 19 de julho de 2009

Tralhas e Cacarecos



No decorrer da vida perdem-se e acumulam-se uma enormidade de coisas. Quando as pessoas se mudam é que se dão conta disso. São muitos cacarecos desnecessários e guardados. Livros, retratos, cadernos, roupinhasde bebê, palitinhos de fósforos que foram acesos e que deveriam ser o fio condutor da saudade já quase adormecida. É só olhar para o palito e lembrar do momento que se queria eternizar.

Não só as mulheres, os homens também guardam coisas incontáveis. Do primeiro dentinho do cachorro ao enorme móvel que ficou de herança da avó e que não conseguem se libertar. Nem bonito ele era, mas fica ali empatando a passagem e atrapalhando a decoração.

Há pessoas que compram compulsivamente e guardam coisas ainda na embalagem. Quando arrumam o armário, se dão conta de que nunca as usaram. Claro que não servem mais. Saíram de moda ou se estragaram. Não há explicação para se fazer estoques desnecessários.

É difícil se despojar de coisas que não servem mais, de lembranças nem sempre doces que certos objetos transportam. Não se pode viver bem melhor sem essa tralha toda? É preciso coragem e dar tudo que não serve mais. Certamente, alguém agradecerá e se terá feito uma boa ação, principalmente a si mesmo ao abrir espaço para novas coisas acontecerem!

Foto Robertson Rébula