segunda-feira, 18 de julho de 2011

o espetáculo



O céu, de repente ficou cor de chumbo. Dava medo, era um medo eletrizante. Sabiam que ele cairia em suas cabeças. Seria muita água como a que havia despencado no ano passado e com uma força danada que derrubara a parede do banheiro, inundando a casa.
A avó delas se referia à chuva, como uma “tromba d’água”.
-Cruzes, Deus nos livre!Que tromba? Perguntava a si mesma... Quem tem tromba é elefante!
Mas ela mesma vira a força que a água tem. E a irmã a socorrendo desses pensamentos tenebrosos, diz que é um chuveirão. Como se abrisse um chuveiro e a água despencasse do céu.
-E só aqui em cima da gente?
-É, sua bobinha!
Os raios começaram a cair.
-Que barulho, ta perto? Conta mil, dois mil, três mil... Nossa, foi por aqui perto...
Correu para a janela. Queria assistir ao espetáculo em seu camarote, em cima da cômoda mineira da sua mãe.
Fizeram-se duas cachoeiras de água barrenta, uma de cada lado da rua. O espetáculo continuava e luzes de néon rasgavam o céu.
Ela dava gritinhos de medo e batia palminhas, aplaudindo a natureza.
Choveu muito, a água desceu rua abaixo, mas o céu já começava a clarear e o sorriso dela iluminara ainda mais seu rostinho de menina. Era a melhor parte do espetáculo daqueles dias de verão.
Desceu num pulo só da cômoda, tirou os sapatos e deu a mão para a irmã.
- Vamos? Pega o guarda chuva!
-Ainda está chovendo!
-Mamãe não vai deixar!
-Vamos? Eu não estou tossindo.
E rápidas, como duas fugitivas, pegaram o guarda chuva, tiraram os sapatos e mergulharam os pés nas pequenas cachoeiras que desciam em cada lado da rua.
A mãe enlouquecida de preocupação gritava para que entrassem e as duas rindo e jogando a água com os pés para cima molhando uma a outra. O guarda chuva apenas servia para que conseguissem se equilibrar.
Num movimento rápido, aproveitando a haste do guarda chuva, a mãe consegue chegar na orelha da menor e com a outra mão no cabelo da maior e as coloca para dentro da velha casa.