quarta-feira, 7 de outubro de 2009

BOLINHA



Cachorro é tudo de bom! É mesmo! Já tive gato, passarinho tartaruga e até mesmo um casal de camundongos, mas cachorro é tudo de bom!
Sei que sou amada incondicionalmente pelos dois cachorros mais lindos da face da terra (rssssssss) e os amo de todo meu coração. Chego a ficar com os olhos molhados só de pensar que algo poderia acontecer a qualquer um dos dois. Ninguém fica para semente e sei que um dia eles não estarão mais aqui comigo. Vou sofrer muito, sentirei muita a falta de cada um, mas as lembranças de todos os momentos serão eternas.
Quando eu era criança, meus pais eram totalmente contra termos um cachorro e dessa forma, só conseguia a companhia de um, por dois ou três meses no máximo, quando minha mãe desaparecia com o animal justificando-se que o condomínio não permitia animais no prédio. Chorava muito, emburrava, mas acabava me resignando. Por causa disso passei a adotar a bolinha.
Duas vezes por ano passava com a minha família longas temporadas em Vassouras no estado do Rio. Lá éramos livres, pés descalços na grama, na terra e na chuva, cavalo, charrete, banho de mangueira, pintinhos, patinhos, pique esconde, estátua, chicotinho queimado, pitanga no cemitério, coquinho no pátio da igreja, matinê dominical e missa das 11 horas com comunhão.
Quando a charrete chegava à rua das Flores, entulhada de malas, eu colocava minha cabeça para fora, olhava para trás e avistava um pontinho caramelo nos seguindo. “BOLINNHAAAAAAAAA” Gritando e querendo me lançar para fora do veículo, tomava uns solavancos de minha mãe que só deixava eu sair quando a charrete parasse totalmente.
Da minha chegada a minha partida, atracava-me a Bolinha que nos adotava por toda a temporada. Alimentava-a com tudo que eu podia surrupiar da cozinha ou até mesmo do meu prato. Ajudada por minha irmã, arrancávamos os carrapatos que encontrávamos. Beth ensinava-a a dar a patinha e outros truques. Em alguns verões, ela vinha com as tetas penduradas de leite, ficava pouco e supúnhamos que havia dado cria por ali. Nunca consegui descobrir aonde escondia os filhotes.
Bolinha foi a primeira cadela vira lata da minha vida. Tinha pelo curto, caramelo, com um olhar doce e meigo que até hoje me emociona. Nos dois verões anteriores à venda da casa por minha mãe, passamos a não vê-la mais. De mãos dadas com a Beth, procurei-a por toda a cidade e pacientemente minha irmã me consolava dizendo que alguma família a tinha levado e que agora ela estava muito bem tratada.
Eu, como criança, precisava acreditar naquela história que a minha irmã contava, era o jeito dela em me poupar das amarguras da vida e durante muito tempo, eu fingi acreditar para me preservar dessa perda.

terça-feira, 6 de outubro de 2009



O primeiro dia da minha aposentadoria

No primeiro dia da minha aposentadoria, vou acordar sem olhar para o relógio. Sei que vai ser cedo, mas não vou olhar. Vestirei uma roupa bem colorida, nada de branco e em seguida irei a padaria comprar um pão francês quentinho e clarinho. Colocarei a mesa na varanda com uma toalha bem bonita e olhando o sol subir no horizonte, folhearei o jornal do dia sem me importar muito com as notícias ruins.
Espreguiçando-me, pegarei as guias dos meus melhores amigos que, num frenesi, agitarão suas caudas num balé sincronizado, pois pensarão que é um feriado qualquer, dia de festa. Então eu os conduzirei a um longo passeio sem muita hora para voltar.
Com uma certa preguiça, irei à academia. É bom poder fazer exercícios pela manhã. Na volta, marcarei um dia inteiro num salão. Como eu já sou uma princesa, terei um dia todo de rainha! Ah! Tem que ser numa quarta feira, bem no meio da semana. Sem perder muito tempo, trocarei a malha pelo biquíni e darei um tibum no mar. Caminharei na beira d’água chutando bem alto a espuma. Quando eu cansar, sentarei numa cadeira qualquer e pedirei uma água de coco bem gelada.
O dia vai passar e a noitinha chegará, só então voltarei para casa e festejarei com um jantar especial.
Não vou voltar a sentir tesão na vida, porque nunca deixei de sentir. Vou apenas sentir mais prazer em tudo que sempre amei e conquistei nesses anos todos, mas longe, longe de tudo que me oprimia. E só então, depois desse dia, vou começar a pensar no que vou fazer com o resto da minha vida.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A maior parte da minha vida, me vi às voltas com a balança. Estou sempre no meu limite, faço o gênero cheinha.

Aos olhos da minha mãe, eu era magra e precisava me alimentar melhor, ou seja, em grandes quantidades. Mãe nenhuma acha a filha gorda. Elas sempre acham que suas filhinhas poderiam engordar os três quilinhos que nós, as meninas, adoraríamos perder.

Manter o peso para mim, sempre foi uma guerra. Ir ao médico, iniciar uma dieta com a mamãe fazendo empadão e pudim de leite na sobremesa, porque você está "magrinha", não ajudava em nada. Eu resistia, mas era uma tortura. Se eu era magra, era pelo resultado de tanta devoção e força de vontade.

Quando se é a mais magra na família, e ela geralmente é toda ”fofa”, composta por cheinhas e gordinhos, isto é um problema. Todos vão tentar te subornar com quitutes colossais e haja força de vontade...Para a família, você geralmente está ótima, está “bem”. Nunca entendi esse bem. “Ah, você está tão bem, não precisa emagrecer. Come só um pedacinho, só hoje”.

Não sou obesa, mas me sinto fora do peso. Minha infância foi magra, minha adolescência gorda e desde então a minha vida foi discutir, brigar e me irritar com a minha maior inimiga, a balança.

Conheço todos os tipos de dietas, remédios, médicos e simpatias. Já pertenci e pertenço a inúmeros grupos de auto-ajuda. Já estive magérrima e fofinha porque adoro comer. Vivo nos extremos. Meu guarda roupa tem pelo menos três manequins disponíveis e quando chego no maior, me desespero reiniciando uma nova dieta.

No começo, sigo o cardápio alimentar, freqüento a academia, suo muito, me esforço bastante. Vou toda contente me pesar e a maldita da Filizola nem se mexe.

Nos primeiros dias de dieta é uma tortura, sonho que estou devorando um banquete e me sinto culpada. Acordo, e graças a Deus, era um sonho, eu não havia comido nada e não engordei. Que alívio!

A cada década de vida, jurava a mim mesma que não faria mais dieta. Queria chutar o pau da barraca. Só que a cada década de vida, nossos interesses mudam e mudam também nosso metabolismo, nosso padrão de beleza e nossa compreensão do que é felicidade. A cada década, nossas necessidades passam a ser outras. Hoje, procuro não o padrão de beleza de tempos passados, mas o meu padrão de saúde que venha garantir um futuro saudável e mesmo assim, querendo perder os três quilinhos indesejáveis.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

SEGREDO

Quero te contar um segredo.
Não sei se devo...
Faz silêncio, Prudêncio!
Ele não me deixa dormir!
Com essas idéias todas
A me confundir

Quero te falar de novo
Talvez agora deva
É sobre o meu segredo,
Ele não quer mais existir!!

quinta-feira, 30 de julho de 2009


Não lembro quando ele nasceu, a imagem mais antiga que guardo na memória, é dele vestido de marinheiro, os cabelos cor de mel, muitos cachinhos dourados, narizinho fino, cheio de sardas. Esperto, quase sempre se safava dos castigos de coisas erradas. Eu costumava abrir meus braços e ele, corria ao meu encontro num passo trôpego para um abraço muito apertado. Nossa diferença de idade não era grande, mesmo assim, brincava com ele como se fosse um bebê. Carinhoso, gentil, generoso e criativo, eu amava nossas brincadeiras.

Certa vez, algum adulto nos deu banho e ele como era o menor, foi colocado ainda sem roupa em cima do soumier da sala. Não sei como foi parar junto a ele um pintinho. Acho eu, que a ave, confundiu parte do seu corpo com alguma minhoca, não que fosse pequeno, mas confundiu-o. O pintinho não largava mais, sacudindo freneticamente a carne inerte, talvez na tentativa de parti-la. O menino aos berros e a babá correndo de um lado para o outro, sem saber o que fazer. “-Mata o pinto!” Alguém gritou. Uns riam e nós assustados com a cena, permanecemos paralisados. Não lembro o que aconteceu com o bichinho, a coitada da criança ficou sem poder mais olhar para nenhum bicho de penas durante muito tempo.

Eu, temporã de uma grande família, cresci com meus sobrinhos fazendo vias de irmãos. Rimos, choramos, estudamos juntos, arrancamos pedaços uns dos outros, nos protegemos, nos apoiamos, sofremos e amamos muito. Nunca, nenhum deles me faltou. Sempre que precisei estavam lá. Eram os meus três mosqueteiros. Nos piores momentos, nos melhores momentos, mesmo rindo ou chorando sobrevivemos! Primeiro, a vida levou o do meio, depois o meu pequeno e hoje só tenho o último dos três mosqueteiros.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Às vezes penso em ir embora

Encontrar alguma coisa perdida

Não é a felicidade, essa eu achei!

Mas lembranças esquecidas

Aonde não sei

Em que lembranças eu estarei?

Como me encontrarei?

Estou tão esquecida, perdida...

Que já não sei

Não quero muita coisa

Um abraço bem apertado

Transplantando o coração

Da mão firme nas minhas derrapadas

Das conversas infinitas sobre qualquer coisa,

Do beijo na testa e de línguas

Do afago nos cabelos

Dos segredos velados

De arrepiar os pelos

Do pedacinho do doce na boca

Do cheiro da chuva na terra seca

Da cabeça oca

Do eu te amo sussurrado

Fui eu quem fez

Coloquei uma aqui

experimentei outra ali

Tentei rimar sem conseguir

Puxei outra vez

Sem êxito, fali...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

o chato não dorme!!


Dizem que o chato não dorme. Talvez ele fique muitas noites acordado, maquinando em como aborrecer alguém, até mesmo prejudicar outra pessoa por pura maldade. Esse indivíduo, de comportamento peculiar, não tem desconfiômetro. Ele pratica a chatice com qualquer pessoa, a qualquer hora, em qualquer lugar, mas prefere o ambiente de trabalho, talvez por passar a maior parte do tempo ali, onde as presas são mais fáceis.

Deve existir no mundo, inúmeros tipos. Conheço um muito singular, o que quer ser admirado e idolatrado, e quando não o são, mostram-se vingativos, perseguindo suas vítimas a exaustão.

No afã de ser endeusado e paparicado, se excedem, extenuando quem convive com o tipo. Orgulhosos e perseverantes, vão até as últimas conseqüências para que suas vontades sejam executadas. Mesmo que a vítima não dê a mínima para o coitado, ele continua na sua empreitada, bolando qualquer coisa que a faça sofrer. O sofrimento alheio lhe dá prazer. Sade poderia muito bem ter feito estágio com este tipo, tamanha perversidade.

Geralmente, são bem relacionados e costumam manter estreitas relações com os altos escalões. Não é por merecimento nem competência que chegam a postos de comando. É comum terem a ajuda, ou a “mãozinha” de alguém, num pequeno empurrão em suas carreiras. Enquanto essas influências durarem, esse chato vai conseguir se manter ali, na sacada do poder. É sabido que tudo despenca, que nada é para sempre...

domingo, 19 de julho de 2009

Tralhas e Cacarecos



No decorrer da vida perdem-se e acumulam-se uma enormidade de coisas. Quando as pessoas se mudam é que se dão conta disso. São muitos cacarecos desnecessários e guardados. Livros, retratos, cadernos, roupinhasde bebê, palitinhos de fósforos que foram acesos e que deveriam ser o fio condutor da saudade já quase adormecida. É só olhar para o palito e lembrar do momento que se queria eternizar.

Não só as mulheres, os homens também guardam coisas incontáveis. Do primeiro dentinho do cachorro ao enorme móvel que ficou de herança da avó e que não conseguem se libertar. Nem bonito ele era, mas fica ali empatando a passagem e atrapalhando a decoração.

Há pessoas que compram compulsivamente e guardam coisas ainda na embalagem. Quando arrumam o armário, se dão conta de que nunca as usaram. Claro que não servem mais. Saíram de moda ou se estragaram. Não há explicação para se fazer estoques desnecessários.

É difícil se despojar de coisas que não servem mais, de lembranças nem sempre doces que certos objetos transportam. Não se pode viver bem melhor sem essa tralha toda? É preciso coragem e dar tudo que não serve mais. Certamente, alguém agradecerá e se terá feito uma boa ação, principalmente a si mesmo ao abrir espaço para novas coisas acontecerem!

Foto Robertson Rébula


terça-feira, 23 de junho de 2009

Água Marinha

Quando eu nasci, minha tia Luci já era muito rica. Conta-se na família, que na época da II Guerra Mundial, o marido dela ficou rico da noite para o dia. Eu não me lembro dele, da minha tia lembro-me bem. Era uma morena corpulenta muito bonita de cabelos grisalhos. Vestia-se bem e sempre adornada com jóias lindíssimas. Acho que foi a partir daí que desenvolvi o meu fascínio por jóias, por ouro e tudo o mais que reluzisse.

Com a morte do meu pai, minha avó passou a morar conosco. A casa já era movimentada e com as visitas de minhas tias e tios, ela se transformou num verdadeiro salão de festas. Quase todas as tardes após a sesta, vovó sentava-se em sua poltrona predileta e eu, para não perder nenhum lance me posicionava ao seu lado, ouvindo as histórias que contavam. Dependendo da visita, eu ganhava um presente.

As mais esperadas por mim eram as do meu tio e padrinho Breno e da tia Luci. Gostava mesmo, era de olhar as jóias que minha tia usava e em especial um conjunto de águas marinhas. Os brincos eram de pedras pingentes com brilhantes e ouro acompanhando um lindo broche em forma de laço.

Numa dessas visitas, cheguei a ficar hipnotizada por eles, tamanha beleza. De boca aberta não conseguia tirar os olhos dos movimentos que minha tia fazia ao falar, balançando-os. Era linda a luz refletida nas pedras pelos raios do sol.

Debruçada em minha avó chamei a atenção de todos, não desgrudava o olhar daquele encanto. Finalmente, alguém me tirou do êxtase: “-Lourdinha !, Que coisa feia! Para de olhar para a Luci!.” Pisquei os olhos e explodi:”Mas são lindos!!”

Minha tia, meio sem graça e vaidosamente me perguntou: “-Voce acha mesmo?”-“Acho!! São lindos!” Respondi.

“-Então, serão seus quando eu morrer!”

Ora, eu não queria que ela morresse e graças a Deus isso só aconteceu muitos anos depois.

Eu queria apenas aqueles brincos lindos de água marinha.!! Onde eles estarão?

segunda-feira, 22 de junho de 2009

NOTRE DAME DE LA GARDE

Da janela do quarto se via a Bonne Mère. Como era linda, majestosa, a mãe bondosa, aquela que nos afaga, a misericordiosa. Desejei que estivesse virada para nós. Olhei para ela e silenciosamente supliquei por um milagre. Minha fé de tempos em tempos é testada e quase sempre a perco ou melhor não a encontro. Esse foi o momento. Olhei novamente para a imagem, os raios do sol do fim da tarde a iluminava de forma especial e ela, em cima sem me olhar, sem me conceder a graça que eu suplicava. Fazia frio, minha garganta ardia, minhas mãos estavam geladas e minha cabeça latejava.... Permaneci sentada num canto do quarto. Seis horas da tarde. A mulher do leito ao lado, levantou-se, pegou um tapete e o colocou no chão iniciando orações numa língua que eu não conseguia entender. Pensei no que ela estaria pedindo ou agradecendo ao seu Deus. Que Deus era aquele e que Mère era aquela que não me via de frente? Que não me ouvia? Saí do quarto, há tempos que não fumava, pensei ser uma ótima hora. Acendi o cigarro dei um trago bem longo, nem sei se o cigarro diminuiu minha dor. Desejei ter um copo de conhaque a mão. Minha nuca me incomodava e meus pés estavam dormentes do frio. O desespero tomou conta de mim, tive vontade de gritar, de pedir ajuda, mas a quem? Tantos anos cuidando dos outros, lidando com vidas e mortes e eu ali sem ninguém pra me consolar... As lágrimas corriam pelo meu rosto sem que eu percebesse. Eu não podia fazer nada, nada mesmo. Era a impotência diante da perda. Dizem que a maior prova de amor é deixar o outro ir. Eu deixei e aceitei. Era a primeira perda de tantas, aceita. Fiquei ali parada assistindo a partida. Cada gota, menos um minuto ...até que tudo terminasse..

segunda-feira, 15 de junho de 2009

EU COM CIÚMES???

Quem não tem ciúmes? Também tenho. Confesso que é um sentimento muito ruim. Ele cria coisas que só o Diabo sabe. É o Diabo sim!! Por que faz você imaginar, o que não existe e mesmo que exista é um sentimento seu, não é do outro. O outro, coitado, nem faz idéia das maluquices que passam na sua cabeça. Graças a Deus!! Que imaginação, que fertilidade, dava para escrever o roteiro de um filme. Pisca os olhos, sacode a cabeça, pensa em outra coisa mas a historinha volta. Ela volta, mesmo você tendo ido para a academia malhar, ao shopping ou ao salão fazer as unhas. É como se um diabinho estivesse no seu ouvido a inventar histórias, espetando aquele garfinho bem no lóbulo da sua orelha. Já esteve em alguma situação, em que o outro foi acintosamente paquerado na sua frente? E o coitado nem aí para o lance ou se prestou atenção, fingiu que não. Educado! Nada, está mesmo a fim de você e nem olhou para a maluca. Tem mulher que perde a noção do perigo. Coitada, te subestimando... Deixa ela ! As reações são diferentes e em algumas, dá vontade mesmo de pular na jugular da infeliz. Você é educada, ou pelo menos ficou. Equilibrada. Respira fundo, controla-se, não deixa o outro perceber. Disfarça, vai ao banheiro, pega um saquinho e respira dentro. Claro, quer mostrar que você é insegura? E você fica ali com cara de paisagem esperando que essa droga de sentimento desapareça até alguma outra sirigaita querer de novo invadir o seu território.



segunda-feira, 1 de junho de 2009

A ALMA DA CASA



Era uma casa que tinha alma. Ruídos esquisitos, ventos sibilantes, vultos corridos e luzes que tremulavam. Gritos vinham de várias direções. Eram crianças que corriam a procura de algo seguro. Era muita gente a transitar, a gritar e a querer alguma coisa. O assoalho rangia, as cadeiras estalavam e a noite, ficava apenas o tremor da chama das velas a iluminar os ambientes.
Todos haviam jantado. Foi quando sentiram a mesa tremer. Cada um correu para uma direção procurando um colo seguro. Era nada, apenas a irmã do meio a sacudir o móvel. Todos pensaram ser uma força de outro lugar, de outro mundo. Nem comentavam para não atiçar mais, quem estava quieto.
As duas irmãs menores, assustadíssimas, mantinham-se acordadas fazendo companhia uma a outra. Cansadas e amedrontadas, inventaram um jogo; cada uma dormiria cinco minutos. No cinco minutos de vigília de uma, a outra se entregou a Morfeu. Só e apavorada, a pequena cobriu-se tentando chamar o sono. Exausta, só acordou com o movimento matinal da casa.
A avó, desde cedo, já estava supervisionando as criadas na composição do café da manhã. Mesa farta, com pães, bolos , cuscuz cearense com muita manteiga e leite de coco. Mesa posta, a velha senhora refez suas tranças e sua oração da manhã. Sentou-se a mesa e a criançada com suas respectivas mães.
Confusão de sempre, um puxa daqui, outro implica dali mas ao final todos haviam se alimentado. Como uns raios, ganharam a rua. Bola rolou, corda bateu e pularam muito. Eram livres como o vento, corriam e brincavam de esconde esconde, pique estátua, queimado e muitas cantigas de roda. A tarde caía e o medo voltava.
A irmã do meio, medo algum tinha. Era esperta, esguia e ágil. Enfrentava tudo e todos a seguiam, até mesmo em excursões... ao cemitério, pela manhã é claro!
As duas menores, aos domingos, iam a missa e comungavam. Sem pegado algum, acreditavam estarem salvas do outro mundo. Ledo engano, pois a mais velha, rapidamente lhes contava o quanto estavam perto das almas mais puras do paraíso e dessa forma, poderiam ter visões de quem já tinha partido. Apavoradas, corriam em direção da velha avó, que lhes dava o terço, e punha-as a rezar.
E foi para quem menos acreditava em almas, que ela apareceu. A matriarca confundiu-a com uma das netas, a jovem e bela moça, foi vista vagueando pelo jardim da antiga casa. A senhora chamou-a, mas não respondeu e uma das criadas de cabelo em pé ficou.
O pai ao chegar , não teve dúvidas e logo a apelidou de Jesuína, nome de uma rua atrás da antiga casa. Eu nunca a vi e nem quero. Sempre acreditei nas histórias que contavam acerca da jovem.
A casa veio abaixo. Era muito velha. Construíram outra maior. Ainda hoje, conta-se no local que a jovem por lá vagueia

terça-feira, 26 de maio de 2009

O MEU AMOR

Eu sempre quis um amor de novela. Um amor lindo, romântico,para toda a vida, com “Happy End”, como a maioria das mulheres do mundo quer. Não tive. Meus amores foram intensos e breves. Alguns eu lembro, outros, já nem sei mais, não fizeram a diferença.

Tenho uma certa inveja de quem amou assim, viveu essas histórias poéticas, de primeiro beijo, primeira transa, flores, mais de carinho do que desejo. Não que eu não tivesse por mim, amores platônicos. Tive muitos, eles se revelaram mas eu não os queria. Sinto, que no fundo da minha alma, eu deveria ao menos, tê-los ouvido. Também amei silenciosamente outros mais. Tive medo de me declarar, me expor. Levei a maior parte da minha vida tentando encontrar esse amor, ou melhor, o meu amor.

O meu amor , não era o amor certinho das minhas amigas, nem o melhor genro que minha mãe queria. Nossa, como eu bati com a cabeça. Como era difícil conviver. Como o outro me irritava. Os anos passaram e outros também. Eu mudei, mas continuei na busca, na procura do meu ideal. Alguns me amavam e eu não, outros não me amavam e eu sim e também nos amávamos mas era impossível conviver..

Agora, eu estou aqui, na minha vida. Feliz comigo mesma, com o que conquistei mas esperando, ainda receber flores.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Seus olhos encheram d’água. Correram algumas lágrimas pelo rosto. Tentou esquecer, não conseguiu. Queria afastar aquela sensação para sempre do seu peito, não dava. Assim como não dava, pensar em outra coisa. O trânsito não ajudava, direcionou outro caminho. Colocou a seta para direita, ia sair, não pode, acesso fechado. O nó na garganta aumentava, tinha um rio nos olhos, queria estancar, foi quando explodiu num soluço forte, doído. Que dor no peito! Respirou bem fundo, sabia que ia passar...chorou, chorou e continuou a chorar. Precisava lavar, arrancar aquela angústia do peito, colocar para fora aquela coisa ruim, começou a se recompor. Olhou para o lado e viu um rostinho lindo lhe acenando, teve vergonha dos olhos vermelhos e inchados mas lembrou que não dava para se ver. Engatou a primeira, mudou a estação no rádio e foi em frente.

domingo, 17 de maio de 2009


Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

Fernando Pessoa

quarta-feira, 13 de maio de 2009



Têm amizades que não se explicam. Afinidades do nada que se anestesiam, que se ressentem, que se impacientam entre si. Talvez nunca mais retomemos a cumplicidade conquistada no decorrer dos anos. Ah, eu lamento! Lamento não ter a minha amiga por perto, nas horas que precisamos, nos momentos de confidências, de aconselhamentos...
Têm coisas que não conseguimos comentar, nem com o grande amor de nossas vidas. São besteiras, que só ela saberia ouvir, rir, criticar, contemporizar e amenizar. Ajudar a comprar uma tinta para a parede, um novo apartamento, um vidraceiro bom e barato, um livro legal para ler, o apoio pela morte da mãe, tudo isso, não com palavras, mas com atitudes, estar ali ao lado, presente, sem precisar dizer nada. Acho mesmo que ela foi muito mais presente na minha vida do que eu na dela.
Falhamos e não admitimos isso. Eu tentei uma vez, acho que estávamos ainda muito ressentidas. Foi um mal entendido sobre o qual não conseguimos mencionar e talvez nunca falaremos...Foi uma grande besteira, que eu super valorizei e ela também. Que pena! Sinto falta da minha grande amiga, minha irmã e companheira de tantos momentos....



terça-feira, 12 de maio de 2009

Letras de músicas e poesias, dizem por mim o que eu gostaria de falar em determinados momentos. Adoro músicas ,versos, prosas e principalmente melodias.
Poucas vezes fiquei doente de verdade, doenças sérias. Quando isso acontecia, ficava extremamente dengosa, pedindo colo...Pois é, chegamos numa fase da vida que ninguém mais te dá colo, ninguém mais te mima. Aí vem a lembrança do aconchego da mãe, da irmã mais velha...do gosto bom da chupeta para calar o choro manhoso...do contato do braço frio e gordo da mãe, junto ao seio volumoso e aconchegante. Do pratinho da louça inglesa com a vaquinha no fundo, da sopinha de pão com a nata por cima salpicada com açúcar e canela, da aula cabulada, das histórias de contos de fadas intermináveis e o melhor de tudo, das melodias cantaroladas por minha mãe que lhe aguçavam memórias adormecidas.
Dessas melodias geralmente o tango era o que eu mais gostava, principalmente o "UNO". Achando que eu pegara no sono, ela me deixava ali, no sofá, e ia para o piano. Tocava o "Rêve D'Amour" de Lizst, com um sentimento que ainda não encontrei ninguém que o tocasse tão bem, e mais algumas outras canções de Piaf.
Eu, ainda febril, permanecia deitada no sofá achando a melodia mais triste do mundo e chorava...No meu torpor, ouvia o tilintar de chaves na porta. O piano cessava, meu lamento interrompia e ganhava meu prêmio, o afago mais gostoso e apertado, o colo mais alto do mundo, com a atenção mais paciente e com cheiro de loção de barba...então o mundo ficava pequenino da minha torre de amor!

domingo, 26 de abril de 2009

O COENTRO




Não sei bem quando e como a minha repulsa pelo coentro começou. Tenho uma verdadeira ojeriza por esse tempero. Cheguei mesmo a pesquisar na Internet todas as possíveis traduções da palavra “ coentro”, para quando viajasse pelo mundo não pedisse prato algum com esse tempero.
Minha mãe era cearense e como uma boa cearense, adorava peixe com pirão. Para o nordestino o prato sempre pede coentro. Toda vez que ia a feira, enchia as sacolas com vários molhos. Meu pai, vendo as sacolas que ela trazia da feira, jogava a metade fora e eu, numa cumplicidade filial , ria e me mantia num silêncio sepulcral. Voltávamos para a sala, rapidamente, fugindo do local do crime, ouvindo-a praguejar e amaldiçoar o pobre do feirante que nem fazia idéia do que acontecia. Ladrão era pouco ...Na semana seguinte a cena se repetia...
Minha família, gostava muito do bendito coentro e eu perambulava pela casa enauseada com o cheiro que pairava no ar. Era um exagero ao meu ver, colocavam-no em tudo, só faltava pô-lo nos doces... Com os anos , não melhorou não , e me vi em muitas situações constrangedoras tendo que engolir garfadas de comida que continham o bendito coentro, seguidas de grandes goles d’ água...
Tenho tentado, juro que tenho , a gostar do tal tempero e quando não acho nenhuma folhinha verde na comida, até como.
Ainda hoje, minha irmã que me ama muito, faz dois pratos separados, um com coentro e outro sem, para mim , claro!

A FUNCIONALIDADE DAS COISAS

O que esperamos de um objeto? Que ele sirva para alguma coisa e de preferência, para aquilo que foi inventado. Certo? Deveria ser assim, mas nem sempre é o que acontece. Ele funciona por um tempo até o dia que ele decide pifar, assim, sem mais nem menos. Sem nunca ter lhe perguntado se poderia pifar, ele pifa. Pronto!
Agora, você está com uma cara de trouxa esperando que um milagre aconteça. Que “algo” surja do nada em teu socorro, mas...nada acontece. Mesmo assim, você decide fazer alguma coisa para avivá-lo: enfia um arame, torce um parafuso, liga para um técnico, que só pode vir depois de amanhã. É uma agonia! Você sai, dá uma volta, pensa e espera, talvez a dança do milagre aconteça e mais uma vez, você tenta e tenta. Nada, nada, nada. Tudo enguiçado.
Surge a idéia do tranco. Um tapa talvez, um solavanco, que tal um pontapé? Pensamento idiota esse, mas antes isto funcionava tão bem!
Você se segura, mas mirando o alvo, bem na boca do estômago daquela coisa, conta até três e no meio do lance pára. Tenta mais uma vez...quem sabe agora? Nada, nada!!
Liga a TV para espairecer, SE FUNCIONAR É CLARO!
A sua paciência já foi para o espaço e derrotado respira fundo. Pensa: QUEM SABE, AMANHÃ FUNCIONE...

terça-feira, 14 de abril de 2009

Magdalena


Pensou em como seria bom caminhar sem ter hora para voltar. Caminhar sem ter destino pra chegar, apenas caminhar. Sentir o vento da primavera que começava a bater no seu rosto. Pensou em como seria bom tirar o chapéu e soltar os cabelos contra o vento e tirou. Sentiu a liberdade batendo em seu peito e fêz força para que ela entrasse. Segurava um embrulho e pensou em atirá-lo na primeira lata de lixo ...Deu mais alguns passos e parou em frente a uma loja , quando a buzina de um carro a trouxe para a realidade. Segurou forte a carteira que levava , aproveitou o seu reflexo no vidro da vitrine e recolocou o chapéu graciosamente meio de lado . Entrou na loja e atrapalhadamente deixou as luvas caírem. De repente, mas muito rápido, ouviu uma voz que a fez estremecer .

" - Deixou caírrr ..." Assustada, encarou aquele olhar por muito tempo e perdeu a noção de quanto tempo ficou ali , parada . Então, recebeu das mãos dele as luvas esquecidas junto com o cartão. Não conseguiu sequer ler o que estava escrito . Continuaram a se olhar por mais tempo ainda e nesse instante, souberam que essa sensação iria durar muito mais. Talvez a vida toda.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Obelisco da Av Rio Branco

Dá para imaginar o aterro do Flamengo no lugar de tanto mar?
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