terça-feira, 14 de abril de 2009

Magdalena


Pensou em como seria bom caminhar sem ter hora para voltar. Caminhar sem ter destino pra chegar, apenas caminhar. Sentir o vento da primavera que começava a bater no seu rosto. Pensou em como seria bom tirar o chapéu e soltar os cabelos contra o vento e tirou. Sentiu a liberdade batendo em seu peito e fêz força para que ela entrasse. Segurava um embrulho e pensou em atirá-lo na primeira lata de lixo ...Deu mais alguns passos e parou em frente a uma loja , quando a buzina de um carro a trouxe para a realidade. Segurou forte a carteira que levava , aproveitou o seu reflexo no vidro da vitrine e recolocou o chapéu graciosamente meio de lado . Entrou na loja e atrapalhadamente deixou as luvas caírem. De repente, mas muito rápido, ouviu uma voz que a fez estremecer .

" - Deixou caírrr ..." Assustada, encarou aquele olhar por muito tempo e perdeu a noção de quanto tempo ficou ali , parada . Então, recebeu das mãos dele as luvas esquecidas junto com o cartão. Não conseguiu sequer ler o que estava escrito . Continuaram a se olhar por mais tempo ainda e nesse instante, souberam que essa sensação iria durar muito mais. Talvez a vida toda.

Um comentário:

  1. Muito bom. Um grande início. O seu texto é repleto de lirismo, o que indica a leveza da sua alma.
    Há que se observar o sotaque afrancesado do rapaz, que devolve as luvas para Magdalena.

    ResponderExcluir